O filme “Moxie - quando as garotas vão a luta” estreou na Netflix no dia 03 de março. Com direção de Amy Poehler, é inspirado no livro da escritora Jennifer Mathieu, Moxie: A novel. A Netflix conseguiu acertar mais uma vez nas suas produções e na trama escolhida para ser lançada no streaming.
O enredo trata de vários temas importantes que devem ser discutidos, muitos pontos relevantes sobre problemas que ainda cercam as mulheres em pleno século 21.
A trama traz muitas temáticas e discussões fortes, mas a equipe e os atores conseguiram transmitir a mensagem do filme de uma forma leve e transparente para atingir e fazer refletir o publico alvo da história.
Agora vamos entender um pouco desse enredo. Vivian (Hadley Robinson) é uma jovem que mora com a sua mãe, Lisa (Amy Poehler), e está cursando o ensino médio, o que já não é uma etapa muito fácil na vida de qualquer jovem.
Em um momento de pressão para escrever um texto na ficha de inscrição para ser aprovada na faculdade, ela ainda tem que enfrentar os problemas familiares e a dificuldade para manter o foco nos estudos. Além de tudo isso a protagonista começa a perceber situações de machismo.
Vivian sempre foi ensinada por sua mãe a ser forte e lutar pelo que pensa, porém a própria mãe às vezes esquece do caminho que percorreu para chegar até ali, esquecendo suas lutas e deixando a comodidade guiá-la na sua vida.
O filme é bem construído e o enredo bem amarrado desde as primeiras cenas, que começa com o sonho de Vivian, mostrando como ela se sente silenciada e remete a mensagem do filme.
O sonho faz uma comparação entre a escola e uma floresta enorme, densa e perigosa. Nela, Vivian fica completamente sem voz, como ela é perante a sociedade e ela foge de algo da mesma forma que ela tenta fugir de tudo o que acontece ao seu redor, fingindo que está tudo bem enquanto não está.
No começo do filme, somos apresentados ao ambiente escolar e os alunos, e percebemos que tanto Vivian quanto sua melhor amiga, Claúdia (Lauren Tsai), não se encaixam em nenhum “grupinho” dos alunos, fazendo o papel das anti-sociais.
Elas se consideram introvertidas e essa é uma característica que é muito vista no figurino e a construção da imagem delas por uma boa parte do longa, além do desejo de se manter invisíveis durante todo o ensino médio.
Já no primeiro dia de aula a presença da aluna nova, a Lucy (Alycia Pascual-Peña), mostra que algo vai mudar na vida e na rotina de Vivian e não apenas em relação a amizade com Claudia. Com indagações que deixam o professor e os colegas irritados, Lucy nem ao menos conclui seu pensamento, o mostrando uma tentativa de silenciar suas opiniões contrárias.
No entanto, a princípio Lucy é a única que de fato se posiciona e demonstra preocupação com o machismo presente na escola, além de mostrar que ela entende a importância sobre se discutir o feminismo e o direito que as mulheres tem de se expressar em meio a sociedade.
O filme vai trazer aspectos como amizade, companheirismo, desentendimentos, à formação de um grupos de mulheres por uma causa em comum. Também é mostrado que que o machismo não se manifesta somente com ações ofensivas, mas com omissão e conivência com certas atitudes, como é o caso de um dos professores, que claramente só tenta se solidarizar por medo de ser tachado.
Porém, diferente do que o professor dá a entender, falar sobre a representatividade feminina ou negra (ou de qualquer outro grupo que é discriminado pela sociedade) não é uma obrigação porque é o assunto do momento. E sim, porque é necessário para quebrar preconceitos e gerar respeito e debates, principalmente na escola, que é o canal de ensino e conhecimento para os estudantes.
Um ponto muito interessante é a forma que a diretora Amy Poehler mostra como o professor e a diretora da escola agem. De uma forma bem dramática, os profissionais fingem que nada aconteceu, para continuar recebendo prêmios e sendo os “melhores profissionais”. Porém, infelizmente, isso não existe apenas em Rockport High School, isso está na vida real em qualquer lugar do mundo.
Vários outros temas são abordados ao longo do filme, mesmo que superficialmente, como racismo, transfobia, capacitismo, xenofobia, entre outros.
Outro ponto muito bom de ser apresentado foi o apoio dos homens na causa feminina.
Quando Seth (Nico Hiraga) apoia a Moxie, podemos perceber que é algo ligado à paixão adolescente, porém, é muito importante que os homens entendam e respeitem as lutas das mulheres e que apoiem a causa.
O filme presta um grande serviço ao demonstrar, ainda que brevemente, que os homens podem sim assumir um papel nessa luta e sim, isso é sexy!
A forma que a personagem da Vivian foi colocada no enredo foi uma ótima sacada, pois ela não é perfeita. Ela chega a ser hipócrita em algumas situações, o que mostra que ninguém está isento, até mesmo alguém de dentro da causa, pois são pessoas que tem falhas, inseguranças e dramas pessoais.
O que conseguimos observar é um grupo de mulheres insatisfeitas com a organização e representatividade e a pouca voz que tem na sociedade atual.
A fotografia valorizou em vários momentos a história e a trilha sonora deu ânimo e adrenalina para o ritmo do filme em alguns momentos que a personagem sai um pouco do compasso da história, focando em outras coisas que não tem nada a ver. Além do vestuário e gestos que auxiliam na construção da identidade da trama.
A trama trás também uma dose de drama adolescente, que mesmo fazendo sentido no filme, muitas vezes fica exagerado, dando origem a frases como “a minha vida tá desmoronando”. Realmente, estava acontecendo muita coisa séria e as personagens agiam como adolescentes agiriam, mas a direção deu uma pesada na dramatização, fazendo Vivian parecer bastante irritante em alguns momentos.
O Filme termina com um final meio morno para o que eu estava esperando, mas um desfecho pelo menos teve uma lógica interligada com a temática debatida a todo momento no filme.
Apesar de Vivian ter esquecido totalmente de terminar seu texto sobre a causa que ela se identifica, entendemos qual é a causa pela qual ela luta. No entanto, seria de bom tom ela escrever o texto já que o filme começou com ele e acaba não mostrando esse desenrolar, tanto do texto quanto a sua inscrição na faculdade que a mesma escolheu. Isso é uma pena, porque, de certa forma, foi esse texto que a motivou a buscar o que gostaria de defender.
O filme como um todo é muito bom e aborda bem os temas mesmo que em alguns momentos de forma superficial. Porém, mesmo com algumas inconsistências o filme é muito importante para mostrar porque devemos abordar temas tão necessários nas escolas, não só para ensinar os alunos, mas também para reeducar os adultos, dando o devido valor que essas temáticas.
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