Cidade Invisível é a mais nova série brasileira produzida pela Netflix. Inspirada no folclore brasileiro, conta com um elenco bastante reconhecido pelo público, como a presença de Alessandra Negrini e Marco Pigosi, além de dar espaço a novos talentos.
Na trama, um detetive começa a investigar as circunstâncias que levaram a morte de homem desconhecido, cujo o corpo foi encontrado na praia. A partir daí, acontecimentos estranhos fazem esse detetive começar a duvidar de tudo o que acreditava.
No decorrer da investigação, o detetive Eric (Marco Pigossi), acaba descobrindo sobre a presença dos seres mitológicos e seu convívio diário com os meros mortais .
A série é articulada para que em todos os episódios estejam diretamente relacionados à criaturas mitológicas do folclore brasileiro. Naturalmente, ele se recusa acreditar que elas de fato existam, até que as evidências não possam mais ser ignoradas.
Ao finalizar essa série, o seguinte pensamento me veio a mente: por que ninguém pensou nisso antes? É claro que existem produções que retrataram as nossas lendas, mas não com a seriedade com que essa mitologia foi construída em Cidade Invisível.
Com uma excelente fotografia, a série conseguiu transmitir a beleza das nossas paisagens naturais e dar o clima de suspense nos momentos certos. A caracterização dos personagens também foi muito boa, poucas vezes fugiram do imaginário passado para a população.
Outro acerto foi a inclusão de um debate sobre preservação ambiental, que também contribui para dar um tom mais crítico à produção. No entanto, a série gerou muitas críticas ao pecar em um ponto seríssimo: a representatividade indígena. Nenhum dos atores escalados eram de origem indígena.
Embora o curupira tenha sido apresentado como índio, o ator que o interpreta não é. Considerado que boa parte das lendas retratadas – Saci, Boto, Iara, Curupira e Caipora – são consideradas entidades pertencentes às espiritualidades indígenas, essa falha deixa uma marca negativa na série.
A personagem que mais se diferencia do que costumamos lembrar no imaginário popular é a Cuca, mas isso de forma alguma é um ponto negativo. Alessandra Negrini brilhou no seu papel e vamos ser sinceros, a culpa de sempre imaginarmos essa personagem como um Jacaré loiro é totalmente do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Mas é claro, com a série se passando no contexto urbano, não seria possível que eles parecessem o tempo todo como personagens de histórias infantis. Por isso a série deu a cada um deles uma “identidade humana”, para que pudessem conviver entre os demais sem chamar a atenção.
Um fato que chama a atenção é a forma como alguns dos personagens estão as margens da sociedade, vivendo em ocupações ou nas ruas. Isso tanto pode ser interpretado como uma afronta aos nossos mitos e ledas, ou quanto uma “cutucada” ao brasileiro e seu péssimo costume de não valorizar sua cultura.
Dar uma história de origem aos personagens também foi uma agradável surpresa. Isso faz o telespectador entender como aquele personagem pode existir na vida real, além de ser excelente para o público estrangeiro, que não teria facilidade de entender quem é o que de outra forma.
Confesso que devido a ser uma série brasileira e por causa do elenco, tive receio que a série tivesse um clima de novela das nove. Mas, felizmente, isso não aconteceu. Cidade invisível não perde para nenhuma série estrangeira em termos de qualidade.
A trama foi bem construída e por isso não causa muita dificuldade para compreender os acontecimentos. Gostaria de mencionar também que a atriz mirim que interpretou Luna fez um excelente trabalho. Fiquei como medo daquela garotinha assustadora em cada close-up.
Essa série não só representou uma agradável surpresa, quando revelou o potencial da Brasil em produzir conteúdo de qualidade baseado em sua cultura. Com um folclore tão rico, só me resta ficar ansiosa para saber quais novos personagens vão ser revelados na próxima temporada.
A Netflix já confirmou a renovação, então só nos resta esperar. Recomendo sem medo, assista essa série, vale a pena. Se não gostar, mínimo você vai acabar conhecendo melhor as lendas do nosso país.
Comments