Ao acordar em uma van, algemado ao homem que assassinou sua filha, Osmio é desafiado a julgá-lo. Se o considerar inocente, se libera o homem e vai embora, se o considerar culpado ou se o mata com um canivete. Ao decidir por uma terceira opção, entregá-lo a polícia, ele vê em uma situação ainda pior pois não tem provas contra o suposto assassino e é acusado de sequestra-lo.
Ele não faz ideia de quem armou toda aquela situação e essa dúvida o consome. No entanto, alguns dias depois ele obtém sua resposta. Um homem que se apresenta como Doutor Santiago vai até a sua casa e conta que deu a Ósmio a oportunidade de fazer justiça e ele a desperdiçou. Revoltado, o doutor faz uma chantagem. Ele sequestro Clara, sua ex-mulher e só irá soltá-la com uma condição: caso Ósmio ajude a executar os próximos julgamento
O Doutor Santiago revela ser uma espécie de justiceiro. Indignado com a ineficiência da polícia, ele acredita veementemente que criminosos merecem a morte. Ele investiga crimes sem solução, descobre quem são os culpados e oferece a vítima a chance de o julgar. Se o considerar culpado, o julgado é morto e aparentemente, todos até o momento escolheram essa opção, menos Ósmio. Já no prólogo do livro entendemos como isso teve início, quando a mãe de Santiago o introduz ainda criança nessa prática doentia.
Esse livro foi uma agradável surpresa para mim. Intrigante e surpreendente, a história consegui envolver o leitor, que fica cada vez mais curioso para saber como Ósmio irá se livrar daquela situação terrível. A narrativa é leve, embora aborde um tema bastante tenso e a leitura é super rápida, dá para ler tudo em poucas horas.
O que mais me chamou a atenção nesse livro são as semelhanças com a nossa realidade, embora seja ficcional. Se você pensar bem, o pensamento de Doutor Santiago é bem comum no Brasil, basta prestar a atenção a sua volta. Talvez você já tenha ouvido de seu vizinho, seu pai, seu amigo ou até mesmo de si próprio a noção de justiça que o personagem carrega.
É por isso que o livro traz uma reflexão poderosa, colocando em pauta a tal “justiça com as próprias mãos”. Ao levar essa ideia aos últimos extremos com a conduta do Doutor Santiago, o autor faz um retrato de como poderiam ser as coisas caso essa fosse a lei em vigor. Se cada um de nós pudéssemos sentenciar quem julgamos culpados, o que isso faria de nós?
A trama traz uma forte crítica ao Estado e a ineficiência na execução das leis, o que acaba alimentando pensamentos como esse. Quando a polícia não cumpre seu papel de solucionar crimes, quando os governantes não aplicam políticas públicas eficientes para evitar a miséria que leva as pessoas a cometerem delitos, o resultado é um só: a criminalidade prevalece e se torna a lei, passa a fazer parte do dia a dia de todos.
Esse livro me fez perceber que cada um de nós somos culpados por algo em determinado momento da vida. Doutor Santiago, ao matar quem era considerado culpado, se tomou o maior culpado de todos. Tirou a vida de pais, de filhos, dilacerou famílias, destruiu sonhos e sentenciou quem já havia pagado por seu crime. Se mesmo após pagar seus crimes ainda são considerados culpados e merecem a morte, então estaremos todos condenados, pois todos cometem erros ao longo das nossas vidas.
Isso ficou bem claro quando Ósmio, que no início foi um e se tornou o julgado. No fim, Doutor Santiago não buscava justiça, e sim uma desculpa para matar e ainda se considerava um Deus por executar esses atos. Sua noção de justiça no fim não faz sentido, pois isso fez dele tão criminoso quando quem ele julgou e foi a sua própria justiça que foi aplicada a ele mesmo no fim.
No entanto, ao ler essa história também conseguir entender a importância dessas leis. Mesmo que sejam ineficientes, são elas que impedem que o mundo vire um caos e a morte seja a única sentença possível. Fazer justiça com as próprias mãos pode parecer reconfortante diante da impunidade que prevalece, mas acaba produzindo mais crimes e mais criminosos.
O Julgamento do Dr. Santiago é um livro que não só entretém, mas nos ensina muito e faz refletir sobre o que é justiça e o que é vingança. Traz um tema bastante relevante para nós brasileiros, o que só reforça a importância da literatura nacional. Além disso, nós faz compreender a importância do perdão para conseguir viver em paz e sem peso na consciência, mesmo carregando dores para o resto da vida. É um livro marcante e que sem dúvidas vale a pena ser lido!
Comments